A ocupação do Sonho Real surgiu em maio de 2004. A área ocupada estava completamente abandonada e servia simplesmente para desova de corpos, assaltos e estupros. Ela amedrontava os moradores da região enquanto a especulação imobiliária aumentava os preços do aluguel e gerava lucros para os proprietários da terra : família milionária, que dava sustentação ao prefeito de Goiânia, e devia mais de 2 milhões de IPTU daquela área.

A ocupação do Sonho Real surgiu em maio de 2004. A área ocupada estava completamente abandonada e servia simplesmente para desova de corpos, assaltos e estupros. Ela amedrontava os moradores da região enquanto a especulação imobiliária aumentava os preços do aluguel e gerava lucros para os proprietários da terra : família milionária, que dava sustentação ao prefeito de Goiânia, e devia mais de 2 milhões de IPTU daquela área.

SONHO REAL : O FORTE E GUERREIRO POVO LUTADOR DE GOIÂNIA

«Nós somos fortes, somos guerreiros, somos povo lutador» dizia a canção do músico Marcos, companheiro sem teto da ocupação SONHO REAL
(região oeste de Goiânia), que foi espancado brutalmente pela polícia militar no último dia 16 durante a desocupação da área.

A canção, intitulada de «Nossa História» durante uma noite na ocupação, encheu os olhos de lágrimas de todos os companheiros que estavam reunidos há dez meses na luta pela moradia, pois expressava a sensação de força e luta que o povo adquire quando se une por um objetivo em comum.

A ocupação que se iniciou de forma espontânea assumiu grandes proporções : chegou a abrigar quase 4.000 famílias que ali viveram tranquilamente até o início deste ano, quando a liminar de reintegração de posse decidiu pela desocupação.

Do chão vermelho da terra e do barro cotidiano das chuvas noturnas, a solidariedade dos sem-teto cresceu. Ameaçados pelo despejo, montaram
barricadas, proibiram a entrada da polícia, levantaram o Conselho Popular, organizaram a vigília, prepararam coquetéis molotov, foguetes, paus e pedras. Sem a confiança nos políticos, que durante todo o ano eleitoral, prometeram mantê-los ali (dentre os políticos, estão o atual prefeito e o governador), o que estava na mente, nos corações e na boca de cada sem-teto era uma só frase : a resistência popular é o que nos vai fazer vencer.

Em torno de uma questão concreta, a necessidade real de um pé de terra para viver, a associação dos sem-tetos surgiu, deixando em segundo plano as divergência de idéias políticas e religiosas. Só uma bandeira foi levantada, a bandeira da moradia, do direito de se viver, a bandeira da causa econômica comum a todos os trabalhadores explorados.

É a resistência que nos faz vencer.
E a luta solidária em torno de uma causa concreta fez surgir entre os sem-tetos a compreensão, não devido a idéias, mas devido a comprovação pelo fato cotidiano que a luta fez saltar aos olhos, de que os nossos companheiros eram cada família pobre que lutava dignamente para sobreviver e que os nossos inimigos eram os donos da terra, parte de uma classe dominante da cidade, que tinha os interesses contrários aos
interesses dos oprimidos, a lei burguesa, que defende os interesses da classe dominante, a polícia, força militar do Estado e, portanto,
também um instrumento dos proprietários contra os desapropriados do mundo, e a imprensa burguesa que vinculada aos interesses dos
capitalistas mentia descaradamente sobre a realidade.

A polícia, infiltrada na ocupação através de P2, sabia da força popular que ali estava concentrada. Temendo o conflito, adiou várias
vezes a ação de despejo, só agindo após a ameaça pelo judiciário de prender o Secretário de Segurança e o coronel da Polícia Militar por
não cumprimento da liminar.

E, assim, instrumentos de uma classe xploradora, a polícia organizou a repressão. Montou a Operação Triunfo na qual uma das principais
estratégias era a operação Inquietação. Tratava-se de atormentar os moradores durante a noite, com tiros e bombas em seus barracos,contra-informações, alertas falsos de invasão, etc. Tudo para estressar os moradores, fazer com que gastem suas armas e trazer o cansaço psicológico.

Mas, das barracas atingidas, das crianças feridas, das noites sem sono no Conselho Popular, das vigílias nas barricadas, a solidariedade crescia. Os moradores se conheceram e desenvolveram o apoio mútuo, o
respeito e a confiança em cada combatente que carregando um pedaço de pau de dispunha a lutar lado a lado.
Em uma destas noites da Operação Inquietação, a polícia atacou com tiros e bombas (não só balas de borracha, ou bombas de efeito moral) e
os sem-tetos resistiram bravamente : um policial e dois sem-tetos foram feridos. A polícia, decidida a se vingar preparou um massacre.

No dia 16 de fevereiro, a polícia invadiu a área e, não sem resistência, desocupou os sem-tetos. A força bruta chegou para matar muitos daqueles que já havia marcado nas barricadas durante a Operação Inquietação. Vários moradores foram assassinados cruelmente, fuzilados após já estarem dominados. Dentre os mortos, apenas dois corpos apareceram : o dos companheiros lutadores Wagner da Silva Moreira (21 anos) e de Pedro Nascimento da Silva (27 anos). Seus sangues,
derramados brutalmente, hão de alimentar milhões de corações. Mais de 20 mortes foram presenciadas e os corpos desapareceram, 30 sem-tetos estão desaparecidos, 800 presos, dentre eles companheiros anarquistas, e centenas de feridos. A investigação agora recai sobre os
companheiros : telefones grampeados e vidas reviradas é o que cada lutador está vivendo. Fome e falta de dignidade atormentam as famílias
de sem-teto que continuam na luta mesmo spejadas, para conquistar o direito a moradia.

Como dizia Bakunin, «os nossos inimigos organizam as suas forças com a força do dinheiro e com a autoridade do Estado. Nós só podemos
organizar as nossas com a convicção e com a paixão.» E se a força do Estado e dos capitalistas desta vez foi maior que a nossa, então continuamos na luta, porque o Sonho Real fortaleceu a dignidade de cada um dos exploradores, separou na consciência, através dos fatos, o mundo dos ricos do mundo dos explorados, e criou nos Joãos e Marias
que conhecemos na luta do barro vermelho, a consciência de classe.
Nos organizarmos ainda mais, lado a lado com o povo guerreiro de tapuias, de Trombas e Formoso, do Araguaia. Construir a cada dia a luta popular, ,fortalecendo a associações dos explorados, para que a cada novo amanhecer se criem novas campos de luta e para que a nossa
força organizada seja maior que a força do dinheiro do Estado e do patrão.

VIVA A RESISTÊNCIA POPULAR !

A TODOS OS COMPANHEIROS QUE TOMBARAM ASSASSINADOS NA LUTA DO SONHO REAL !

Coletivo Pró-Organização Anarquista em Goiás
proorganarquista_go@riseup.net


Par : rr.ii.